segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Com licença, deixa eu ser feliz?


"Mefisto: No final das contas, pode ser que não sirva mais para nada. Eu fui construído sobre uma idéia errada (...),
segundo a qual as pessoas não são malvadas o suficiente para se perderem sozinhas,
com seus próprios meios".

Paul Valéry, Mon Faust.


Ainda estou me esmerando para organizar os meus pensamentos após a leitura de “O mal-estar na cultura”, de Sigmund Freud. Digamos que a belíssima ilusão esperança, de atingir o estado supremo da felicidade e lá permanecer, malogrou de vez. Detalhe que o próprio Sr. Sigmund afirmava (orgulhosamente, é provável) que, assim como a teoria da evolução, de Darwin, a sua psicologia do homem feriu profundamente o nosso “egoísmo ingênuo”. É, ele estava certo (exceto pela teoria da seleção natural, que já não afeta ninguém, imagino).

Bom, agora que desabafei, vamos ao pensamento freudiano: conforme Freud, a felicidade (ausência de dor ou desprazeres e, notadamente, alcance de prazeres) ocorre pelo contraste com momentos que não são felizes. Ou seja, sem tristeza/dor/desânimo/qualquer outra coisa desagradável, não há felicidade!! Sim, fiquei chocada, mas é incrível como isso se aplica a minha vida e a de todas as pessoas que conheço mais intimamente. E, chutando o balde ainda, consta uma citação de Goethe: “Nada é mais difícil de suportar do que uma série de dias bonitos”. Tudo bem, até Freud confessa que esta frase PODE ser um exagero...

Agora a pergunta crucial: Por que eu não posso atingir um estado permanente de felicidade? Quem não me deixa ser feliz? Será um Deus, será um demônio, como o Mefisto de Mon Faust? Não, sou EU, ou melhor/pior, sou SUPER EU.

Explicando melhor: Obviamente, se algo externo nos acomete ou se sofremos de alguma doença, nada disso é de nossa responsabilidade. Mesmo assim, quantas vezes sente-se “coisas ruins”/angústias sem nenhuma justificativa aparente? Quantas vezes se sofre sem nenhum motivo fático e palpável?

É, segundo Freud, isso se deve à nossa própria constituição psíquica, que contém um “eu” e um “supereu”, sendo este a nossa "consciência moral", necessária ao desenvolvimento cultural. É ela que nos reprime de ficar em casa sem fazer nada ao invés de cumprir algum compromisso, é ela que nos faz trabalhar ou estudar quando devemos, enfim, é ela que nos faz ser um exemplo à sociedade e tomar um rumo na vida. Mas também é ela que se torna uma barreira à nossa felicidade, pois muitas vezes nos impede de realizar o que nos daria prazer. Assim, conforme o ensinado, aparentemente sem sentido mas muito bem fundamentado por Freud, quanto mais “virtuosos” somos, mais nos exigimos e mais conflitos há entre o nosso “eu” e o “supereu” (quando "tiltis" - angústias e sentimentos de culpa - acontecem). Bom, esse post já tá gigantesco e meu "supereu" tá mandando o "eu", que gosta de escrever, parar, porque senão ninguém aguentará ler até o final... só espero que eles não se matem aqui dentro e consigam conversar, captando a máxima de que as diferenças acrescentam. No mais, resta tratar bem a delicada felicidade...

Fica a belíssima e genial composição de Tom e Vinicius pra relaxar e pensar mais um pouquinho ;)

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